sábado, 1 de setembro de 2012

Um pouco sobre melancolia


Certo momento as palavras se tornam escassas
Sem mais boas metáforas
Ou boas colocações
Não há mais nada a ser dito
Já se atingiu o ápice

Daqui para frente
Não há mais fulgor na melancolia
Sem charme ou glamour
Só morro a baixo
Num lento e excruciante declínio

Uma hora ficaria só a tristeza
E nem as mais brilhantes palavras lhe salvariam
Mas elas se quer existem
O amargor corroeu o pouco talento que você tinha
E o desalento lhe privou de todo o resto

Olhando esse "poema"
Fácil notar que ele é digno de pena
Comparado a qualquer outro poema seu
Mas você sabe
Não poderia ser diferente

A angustia selou seus lábios
A desesperança sugou-lhe o fôlego
A melancolia escureceu a visão
O torpor tomou conta do seu corpo
São palavras de alguém energia para existir, quanto mais escrever

Ao fim a morte chegou prematuramente
Não da maneira esperada, da maneira normal
E sugou-lhe a vida até só sobrar a melancolia e um torpe autômato
Como um corpo morto que ainda caminha errante
Num reflexo de seu passado vivo, tentando se mesclar em morte a um mundo de vida

sábado, 21 de julho de 2012

Sobre Rosas e Tango


Talvez outro homem curvar-se-ia e te presentearia com a rosa
Eu preferi mantê-la comigo e puxar-te para dançar
Te segurando forte pela cintura e pressionando teu corpo de encontro ao meu
Deixando evidente meu desejo de sermos como um só

Nos pontos altos da música, nos nossos passos e rodopios quase violentos
Nossas silhuetas se confundiam, nossas almas se tornam apenas uma
E nessa hora sentíamos aquela sensação sem igual
Doce como um sonho que não lhe permite acordar, sutil como um pesadelo que lhe desperta suado

Se eu pudesse lhe dar qualquer coisa nesse momento, não seria o céu ou a lua
Mas sim o que eu sinto quando sinto teu corpo no meu
Sua perna segurando a minha, seus dedos roçando de leve meu pescoço, meu braço envolta da sua cintura
Mas sei que pra cada uma das coisas que sinto nesse momento, você tem uma equivalente

Ao fim da música mesmo que nossos corpos se separem, nossas almas continuam juntas, dançando
Nossos olhos se acompanhando, um reagindo ao olhar do outro
É então que num movimento de intimidade e lascívia
A rosa que antes mantinha comigo acaba indo parar no teu decote, é, acho que é esse o lugar dela

domingo, 20 de maio de 2012

Algo triste no ar


Tem algo de triste no ar
Um Floco de neve num dia cinza? Não...
Talvez o som da minha respiração
Cansado dessa existência atormentada

Um a um eu fui emparedando minhas mágoas
Enterrando meus momentos de dor
Acorrentando meus fantasmas
E agora, tudo que tenho é uma grande casa cheia de maus agouros

Agora parece que as paredes gritam meu nome, me acusando
Que a terra vai me devorar vivo
E os fantasmas vem fazer comigo o que fiz com eles
Tudo que construí em mim parece que está desabando

Respiro penosamente
Sei que a cada vez que o ar sai pela minha boca
Um pouco do sopro divino
Escapa de dentro do meu peito

A cada minuto sinto-te mais próxima
Afinal você nunca foi embora
Vai ficar ai, esperando, respirando ao pé do meu ouvido
Até minha hora chegar

As vezes é como se já pudesse me ver dentro do caixão
Sendo velado
Enquanto grito lá de dentro e o arranho
Mas ninguém escuta

Do inferno e da loucura
Não existe volta
Sinto meu sofrimento me consumindo vivo
Sinto que estou vivendo os dois, inferno e loucura, simultaneamente

Eu me pergunto até onde o barco fantasma da minha vida
Vai navegar
Me pergunto quanto mais aguentarei essa tristeza prolongada
E minha alma resistirá

Olho pra cima
E não é o sol que vejo
Apenas uma nuvem negra e corvos
Esperando minha hora chegar

Mais um ou dois copos


A música já havia se transformado em ruídos desagradáveis
A luz alternante incomodava
A maioria das pessoas já estava bêbada
Ou fazendo algo do qual se arrependerá amanhã
Claro, se o amanhã chegar para eles

Mas em meio a tanto desagradado
Te vi
Encostada no balcão do bar
Observando a banda, ou pelo menos o que sobrou dela
Desviando dos trôpegos me aproximo de você

Com aquela sinfonia de luzes e cores
Mal sabia dizer se teu cabelo era ruivo, loiro ou moreno
Se seus olhos eram verdes, azuis ou negros
Mas teu olhar sequestrou o meu assim que se cruzaram
Podia não distinguir as cores, mas com certeza distinguia seu charme

Pergunto no seu ouvido se aceita um drink
Você desliza o olhar do meu pescoço até minha mão
Sem um maior aviso pega o meu copo de uísque e toma o que sobrava
Olhando pra mim com um sorriso
E pede mais dois copos pro barman

Gostaria de ir contigo para um lugar mais calmo
Eu jogo com o que eu tenho
E no momento, não tenho essa carta na manga
Mas quando o jogo vale a pena
Jogamos o que temos e torcemos

Murmuro no teu ouvido
Perguntando se você gostaria de fazer essa noite valer a pena
E até talvez a vida também
Nem que seja por um breve instante
Mas um breve instante eterno em si mesmo

Peço permissão para mostra-lhe uma nova existência
Uma onde nossos sentidos seriam elevados ao infinito
Uma existência onde os sentidos não enganam
Simplesmente revelam o horizonte não navegado
 E jogam na nossa cara a poesia da vida

Seguro sua mão e te puxo pela cintura para uma dança
Você acompanha meus movimentos
Como se fosse a situação mais comum do mundo
Vem querida
Vamos ensinar a todos como se dança de verdade

Veja como nossos corpos juntos
Se mexendo e se confundindo
São muito mais harmônicos que a música que nos guia
Querida
Vamos mudar de música, virar o disco

Quero que nessa noite
Quiçá nas próximas se assim lhe convir
Que a única música que guie meus movimentos e meu corpo
Sejam seus risos
E seus gemidos ao pé do meu ouvido

Atravessaria noites te guiando no meu mundo
Mostrando segredos que você nunca imaginaria
Mergulhando na tua imaginação e vida
Permitiria que fizesse o mesmo comigo
Para que nos tornássemos um parte do outro

Vem comigo
Vamos dar ao mundo o que ele precisa
Mais do que Romeu e Julieta, Bonnie e Clyde
Odisseu e Penélope, Hades e Perséfone deram
Vamos ser a epopeia que nossos descentes contarão

Vamos afastar todo o frio da noite
Todo o gelo do inverno
Com nosso próprio calor
Vamos guiar nossos corpos em chamas
Ao paraíso

Vem ser minha Imperatriz
Aquela pessoa que sonho enquanto durmo
E lembro do sonho durante o dia para me alegrar
Vem... vamos fazer de nossas vidas mais que tudo ao mesmo tempo
Vamos fazer os deuses sentirem inveja da gente

Não-Morto


Então o tempo passou mais um pouco
E enquanto reli um triste e romântico poema meu
Tocava uma música de dor de cotovelo na rádio do mate
Vi a hora, as pálpebras pesam, mas sem vontade de dormir
É... a insônia vem piorando

Na minha cabeça os protagonistas das minhas histórias
Vão perdendo sua típica austeridade
E se tornando peças mais lúgubres e tristes
Ora, o que eu poderia esperar?
Afinal protagonistas sempre revelam muito do autor

O mesmo inferno volta para me abraçar
E agora, novamente, eu sinto que realmente devia ter deixado todas minhas esperanças
A cada dia tudo parece mais difícil e custoso
Dormir, levantar, tomar banho, fazer a barba
Comer, ouvir, falar, conviver

Dormir?... Nunca sonhei com o dia, apenas a noite e em maioria pesadelos
Levantar?... Tudo que queria era que um novo dia não começasse para mim
Ao tomar banho não sinto mais que meu sofrimento é levado pela água
Para fazer a barba, preciso olhar no espelho...
E lá eu vejo todo o desgosto e tristeza nos meus olhos, tento não me encarar

A comida parece sem gosto dentro da minha boca, mas sorrio dizendo que está gostoso
Agora ouvir os outros é tão difícil, por causa dos pensamentos que gritam na minha cabeça
Meus lábios parecem costurados, pois por mais que tenha o que falar não tenho forças
Conviver com o mundo? Tudo me desagrada
Nessas horas sei que não é o mundo que me desagrada, sou eu mesmo que o faço

Os primeiros passos do dia começam com uma torpe tentativa de cambaleio
Meu corpo dói, joelhos, pés, costelas, peito, tudo dói
Como se meu corpo estivesse apodrecendo
Afinal sou novo demais para estar com dores de velhice
Será que é isso? Que estou morto?

Rio, afinal mortos não caminham
Talvez eu esteja num entre termo
Não estou vivo, não me sinto vivo
Mas continuo por ai, vagando
Um “não-morto” talvez

Será que era pra eu estar morto?
Talvez seja por isso que esse inferno me persegue
Como não fui até ele, ele veio até mim...
Afinal por que me sinto assim?
Era para eu não ter nascido?

Mas a verdade... a verdade é que por mais que sinta tudo isso
Eu sorrio, rio, falo, cuido...
Por mais que eu esteja morto por dentro
Afinal não quero que ninguém veja essa doença que eu carrego
Sei que eles vão olhar meu sorriso, e nunca vão imaginar toda a dor que sinto por dentro

Sei que eles não imaginaram o que se passa aqui dentro, quanto mais entender
Mas não os culpo, pois nem eu mesmo entendo
Afinal como o cara que fala tanta porcaria e é sempre tão animado
Pode se sentir assim por dentro?
Se quer, eu já não entendo de onde tiro forças para permanecem “resistindo”

Lembro do meu avô que quando ainda era lúcido vivia repetindo
“O piá é forçudo”, “Ele foi a criança mais forte que eu conheci”,
“E mesmo com a camisa e as mãos cheias de sangue, você segurou o choro”
Essa última de quando eu ainda era bem pequeno e precisei levar uns pontos no queixo
É vovô... talvez o senhor estivesse certo e eu seja uma criança bem forte...

Chegando aqui mal sei como continuar esse “poema”...
Tanta coisa pra dizer ainda...
Releio-o e me toco de que ele é horrível
Mas por pior que pareça, sei que não é tudo
Sempre falta alguma moeda amaldiçoada a ser contada

Talvez achem que usei metáforas demais aqui, mas é tudo literal
Talvez achem que fui exagerado, mas é exatamente assim que me sinto e ainda faltam muitos detalhes deprimentes...
E o mais triste é olhar pra esse poema, e ver que nada mudou aqui dentro
Por mais que escreva, por mais que chore, nada mudou
... Tudo que eu queria era expurgar todo esse mal para fora de mim...

sábado, 7 de abril de 2012

Romântico

Não imaginava que as coisas fossem ficar assim

Olhar para meus poemas

E pensar

“Quanto tempo não escrevo um poema romântico?”

“Quanto tempo não tenho uma musa?”.


Musa? Rio...

Já mal sei o que é isso

Menti para mim por tanto tempo e com tanta veemência

Sobre não precisar de uma

Só para me sentir menos sozinho e amargurado


Já não tenho mais alguém para dançar com minhas palavras

Muito menos alguém para destinar uma rosa com um poema

Restaram só

As palavras esquecidas, pois nunca foram escritas

E a rosa murcha na floricultura que ficou assim por não tê-la comprado e dado a alguém


Lá fora não chove, nem neva

Sem frio ou calor

Nublado apenas

Mas a verdade é que não faz diferença o tempo lá fora

Sem alguém aqui dentro


Sem essa pequena grande peça

Não faz diferença se lá fora cai o mundo ou se faz um silêncio mortal

Sem ela sempre haverá um “Que” de ausência e consequentemente certa amargura

Com ela também não importaria se neva ou se tem lua cheia

Sempre acharia algo interessante em qualquer fato para aproveitar com ela


Não que dependa tão profundamente de alguém

Por mais que pareça...

Rio de mim mesmo... me sinto ridículo pra falar a verdade

Mas só queria alguém para tentar conquistar

Um pouquinho mais a cada dia, a cada momento


Alguém para quem contaria alguma piada idiota, só para rirmos juntos

Alguém com quem assistiria a um filme, só pra ficar compartilhando aquele momento

Alguém para quem eu me arrumaria, só para me sentir admirado pela pessoa que mais admiro

Alguém com quem cozinharia, só para... Fazermos as coisas anteriores juntos

É... eu só queria alguém que me distraísse de mim mesmo... Alguém que me ajudasse a fugir


Vejo o tamanho desse poema...

Ele não é grande, mas também não é pequeno

Mas pela fome que sinto parece tão pequeno

Mas não é fome de amor... É fome de alguém para amar

Talvez sinta tanta fome... pois sei que algo falta aqui dentro...


Talvez alguém que venha a me ler

Pense que sou algum tipo de monomaníaco depressivo

Talvez seja um pouco...

Mas assim como existem os famintos, os sedentos, os viciados e os curiosos

Existem os românticos... como eu