domingo, 20 de maio de 2012

Algo triste no ar


Tem algo de triste no ar
Um Floco de neve num dia cinza? Não...
Talvez o som da minha respiração
Cansado dessa existência atormentada

Um a um eu fui emparedando minhas mágoas
Enterrando meus momentos de dor
Acorrentando meus fantasmas
E agora, tudo que tenho é uma grande casa cheia de maus agouros

Agora parece que as paredes gritam meu nome, me acusando
Que a terra vai me devorar vivo
E os fantasmas vem fazer comigo o que fiz com eles
Tudo que construí em mim parece que está desabando

Respiro penosamente
Sei que a cada vez que o ar sai pela minha boca
Um pouco do sopro divino
Escapa de dentro do meu peito

A cada minuto sinto-te mais próxima
Afinal você nunca foi embora
Vai ficar ai, esperando, respirando ao pé do meu ouvido
Até minha hora chegar

As vezes é como se já pudesse me ver dentro do caixão
Sendo velado
Enquanto grito lá de dentro e o arranho
Mas ninguém escuta

Do inferno e da loucura
Não existe volta
Sinto meu sofrimento me consumindo vivo
Sinto que estou vivendo os dois, inferno e loucura, simultaneamente

Eu me pergunto até onde o barco fantasma da minha vida
Vai navegar
Me pergunto quanto mais aguentarei essa tristeza prolongada
E minha alma resistirá

Olho pra cima
E não é o sol que vejo
Apenas uma nuvem negra e corvos
Esperando minha hora chegar

Mais um ou dois copos


A música já havia se transformado em ruídos desagradáveis
A luz alternante incomodava
A maioria das pessoas já estava bêbada
Ou fazendo algo do qual se arrependerá amanhã
Claro, se o amanhã chegar para eles

Mas em meio a tanto desagradado
Te vi
Encostada no balcão do bar
Observando a banda, ou pelo menos o que sobrou dela
Desviando dos trôpegos me aproximo de você

Com aquela sinfonia de luzes e cores
Mal sabia dizer se teu cabelo era ruivo, loiro ou moreno
Se seus olhos eram verdes, azuis ou negros
Mas teu olhar sequestrou o meu assim que se cruzaram
Podia não distinguir as cores, mas com certeza distinguia seu charme

Pergunto no seu ouvido se aceita um drink
Você desliza o olhar do meu pescoço até minha mão
Sem um maior aviso pega o meu copo de uísque e toma o que sobrava
Olhando pra mim com um sorriso
E pede mais dois copos pro barman

Gostaria de ir contigo para um lugar mais calmo
Eu jogo com o que eu tenho
E no momento, não tenho essa carta na manga
Mas quando o jogo vale a pena
Jogamos o que temos e torcemos

Murmuro no teu ouvido
Perguntando se você gostaria de fazer essa noite valer a pena
E até talvez a vida também
Nem que seja por um breve instante
Mas um breve instante eterno em si mesmo

Peço permissão para mostra-lhe uma nova existência
Uma onde nossos sentidos seriam elevados ao infinito
Uma existência onde os sentidos não enganam
Simplesmente revelam o horizonte não navegado
 E jogam na nossa cara a poesia da vida

Seguro sua mão e te puxo pela cintura para uma dança
Você acompanha meus movimentos
Como se fosse a situação mais comum do mundo
Vem querida
Vamos ensinar a todos como se dança de verdade

Veja como nossos corpos juntos
Se mexendo e se confundindo
São muito mais harmônicos que a música que nos guia
Querida
Vamos mudar de música, virar o disco

Quero que nessa noite
Quiçá nas próximas se assim lhe convir
Que a única música que guie meus movimentos e meu corpo
Sejam seus risos
E seus gemidos ao pé do meu ouvido

Atravessaria noites te guiando no meu mundo
Mostrando segredos que você nunca imaginaria
Mergulhando na tua imaginação e vida
Permitiria que fizesse o mesmo comigo
Para que nos tornássemos um parte do outro

Vem comigo
Vamos dar ao mundo o que ele precisa
Mais do que Romeu e Julieta, Bonnie e Clyde
Odisseu e Penélope, Hades e Perséfone deram
Vamos ser a epopeia que nossos descentes contarão

Vamos afastar todo o frio da noite
Todo o gelo do inverno
Com nosso próprio calor
Vamos guiar nossos corpos em chamas
Ao paraíso

Vem ser minha Imperatriz
Aquela pessoa que sonho enquanto durmo
E lembro do sonho durante o dia para me alegrar
Vem... vamos fazer de nossas vidas mais que tudo ao mesmo tempo
Vamos fazer os deuses sentirem inveja da gente

Não-Morto


Então o tempo passou mais um pouco
E enquanto reli um triste e romântico poema meu
Tocava uma música de dor de cotovelo na rádio do mate
Vi a hora, as pálpebras pesam, mas sem vontade de dormir
É... a insônia vem piorando

Na minha cabeça os protagonistas das minhas histórias
Vão perdendo sua típica austeridade
E se tornando peças mais lúgubres e tristes
Ora, o que eu poderia esperar?
Afinal protagonistas sempre revelam muito do autor

O mesmo inferno volta para me abraçar
E agora, novamente, eu sinto que realmente devia ter deixado todas minhas esperanças
A cada dia tudo parece mais difícil e custoso
Dormir, levantar, tomar banho, fazer a barba
Comer, ouvir, falar, conviver

Dormir?... Nunca sonhei com o dia, apenas a noite e em maioria pesadelos
Levantar?... Tudo que queria era que um novo dia não começasse para mim
Ao tomar banho não sinto mais que meu sofrimento é levado pela água
Para fazer a barba, preciso olhar no espelho...
E lá eu vejo todo o desgosto e tristeza nos meus olhos, tento não me encarar

A comida parece sem gosto dentro da minha boca, mas sorrio dizendo que está gostoso
Agora ouvir os outros é tão difícil, por causa dos pensamentos que gritam na minha cabeça
Meus lábios parecem costurados, pois por mais que tenha o que falar não tenho forças
Conviver com o mundo? Tudo me desagrada
Nessas horas sei que não é o mundo que me desagrada, sou eu mesmo que o faço

Os primeiros passos do dia começam com uma torpe tentativa de cambaleio
Meu corpo dói, joelhos, pés, costelas, peito, tudo dói
Como se meu corpo estivesse apodrecendo
Afinal sou novo demais para estar com dores de velhice
Será que é isso? Que estou morto?

Rio, afinal mortos não caminham
Talvez eu esteja num entre termo
Não estou vivo, não me sinto vivo
Mas continuo por ai, vagando
Um “não-morto” talvez

Será que era pra eu estar morto?
Talvez seja por isso que esse inferno me persegue
Como não fui até ele, ele veio até mim...
Afinal por que me sinto assim?
Era para eu não ter nascido?

Mas a verdade... a verdade é que por mais que sinta tudo isso
Eu sorrio, rio, falo, cuido...
Por mais que eu esteja morto por dentro
Afinal não quero que ninguém veja essa doença que eu carrego
Sei que eles vão olhar meu sorriso, e nunca vão imaginar toda a dor que sinto por dentro

Sei que eles não imaginaram o que se passa aqui dentro, quanto mais entender
Mas não os culpo, pois nem eu mesmo entendo
Afinal como o cara que fala tanta porcaria e é sempre tão animado
Pode se sentir assim por dentro?
Se quer, eu já não entendo de onde tiro forças para permanecem “resistindo”

Lembro do meu avô que quando ainda era lúcido vivia repetindo
“O piá é forçudo”, “Ele foi a criança mais forte que eu conheci”,
“E mesmo com a camisa e as mãos cheias de sangue, você segurou o choro”
Essa última de quando eu ainda era bem pequeno e precisei levar uns pontos no queixo
É vovô... talvez o senhor estivesse certo e eu seja uma criança bem forte...

Chegando aqui mal sei como continuar esse “poema”...
Tanta coisa pra dizer ainda...
Releio-o e me toco de que ele é horrível
Mas por pior que pareça, sei que não é tudo
Sempre falta alguma moeda amaldiçoada a ser contada

Talvez achem que usei metáforas demais aqui, mas é tudo literal
Talvez achem que fui exagerado, mas é exatamente assim que me sinto e ainda faltam muitos detalhes deprimentes...
E o mais triste é olhar pra esse poema, e ver que nada mudou aqui dentro
Por mais que escreva, por mais que chore, nada mudou
... Tudo que eu queria era expurgar todo esse mal para fora de mim...