domingo, 4 de dezembro de 2011

Fingir que não existo

As cores vão perdendo sua tonalidade
Pouco a pouco
Os sons vão diminuindo sua intensidade
Pouco a pouco

Pouco a pouco
Meu corpo adormece
Pouco a pouco
Os pensamentos vão se apagando

Sei que o mundo não deixará de existir
Mas talvez eu possa deixar
Me pergunto o que exatamente eu sou
Fruto de impulsos, instintos, conjecturas, metas

Sem luzes, elas se apagaram
Sem sons, eles foram abafados
Sem impulsos e instintos, eu os sufoquei
Sem conjecturas e metas, eu as esqueci

Ao fim... sobrou eu e o vazio
Mas eu... Apaguei
Me fiz um com o vazio
E aqui é tão confortável

Aqui não há mais negações
Ou sacrifícios
Incômodos ou julgamentos
Não há mais a cacofonia ou a dor

Talvez fique aqui mais algumas horas, dias ou semanas
Talvez eu não consiga voltar quando eu quiser, se quiser
Mas eu sabia o que queria quando comecei
E sabia das consequências

Afinal
Nunca é tarde para parar de apostar no pôquer...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Paixão

Paixão, droga
Clímax, alivio, abstinência, depressão
clímax, abstinência, depressão
Dependência
Clímax, depressão
Clímax, clímax
Overdose

Ascende-te aos céus
Turva-te a mente
Vicia-te
Deturpa-te
Consome-te

Morrer por prazer
Se não por prazer
Pelo que morrer?

Melancolia


Afinal o tempo passou
E com ele a paciência, que me pediam para ter,
Transformou-se em melancolia,
Calma e resignada,
Mas sem qualquer paz

No espelho os reflexos se distorcem
Paz interior deu lugar ao desespero
O sorriso sincero ao olhar vago e perdido
O herói à mais um dentre os que caíram
Miro meus lábios refletidos e neles leio "Por que?"

Por dentro, sente-se o frio
Como um deserto após o por do sol
Sem qualquer alma viva
Apenas o frio, a escuridão
E a solidão

Como um predador ela me perseguiu
À passos silenciosos me cercou,
E agora que estou sozinho
Posso ver os olhos dela prestes a me atacar
Fundos, mas sem qualquer resquício de uma alma

Tudo que queria
Era que toda essa tristeza fosse mais "real"
E não tão "terna" como os braços de uma mãe que me acolhe
Para poder me livrar dela
Transformando-a em lágrimas

Olho para trás
E procuro minha culpa
Procuro descobrir onde errei
Mas não vejo nada entre a escuridão além dos olhos dessa fera
Que me tem entre seus braços

Olho para frente
E rezo para que a próxima noite
Seja diferente desta, e de todas as outras que a antecederam,
E não seja obrigado a lutar pela vida
E vencer até o nascer do novo dia

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Aos caros parceiros

Com certeza a vida era melhor
Assim como a música
Assim como os sentimentos
Antes de vocês

Por conta de seus frenesis alucinógenos
Com tonalidades de cores que se quer imagino
Minha vida se tornou mais cinza
Insuportavelmente daltônica

Por conta da melodia inexorável
Que vocês descreveram
Minha vida tornou-se mais silenciosa
Intolerantemente melancólica

Por conta das engenhosas adjetivações
Que compuseram em rima e métrica perfeita
Me senti um completo ignorante sobre sentimentos
Inaceitavelmente insensível

E agora me dizem que merecem algum prêmio?

Não tenho cabeça para sua cacofonia sobre poesia
Sei que vocês me ofendem com palavras bonitas
Eu os ofenderei com minha ignorância, não os entendendo
A cada um sua arma

Pouco poético, ótimo não sou poeta mesmo
Mas efetivo e irônico

Ecos

Novamente, você aqui
Só eu e você
Afinal onde quer que eu vá
Você sempre estará lá

Sua voz novamente me acordou
Sua voz novamente seguiu meu dia
Foi novamente a tua voz que embalou meu sono
E nos meus sonhos você estava lá

Não importa o que eu faça
Onde eu vá
Quem eu me torne
Sua voz estará comigo

Novamente, novamente e novamente
Um dia atrás do outro
Nesse repetitivo
Inferno

Todo esse tempo
Fui obrigado a te escutar
Mas quando você me perguntou
“Você me quer contigo?”?

Freneticamente você falou
Nos momentos que eu mais quis silêncio
Você estava lá, evitando que eu tivesse paz
Falando e falando

Eu não agüento mais tua companhia
Não suporto mais tua voz
Você foi minha insônia
Quando eu mais precisei dormir e esquecer a realidade

E o pior
É saber que amanhã de manhã
Olharei no espelho
E te verei.

Horizonte


Peregrino, sem teto, sem casa
Desgarrado sem pátria

Já perdi a conta
De quantos dias se seguiram assim
Mas que diferença faz o tempo
Para quem os sinos não dobrarão?

Segui a frente, segui descobrindo
Vivi como nenhum de vocês
Leitões preguiçosos que me lêem
Viveu

Sei que quando lerem esta última carta
Provavelmente estarei morto
Mas quem se importa?
O fim é só para aqueles que não imaginam além do horizonte

Cacei verdades até tornarem-se mentiras
Cacei mentiras até provarem-se verdades
Escutei pedras cantarem
E presenciei o horizonte não ter fim

Vivi cada dia descobrindo
Duvidando e indo além
E estou indo novamente
Parar? Nunca

Uma casa? Um lar?
Um amor?
Para que desejaria isso
Se o grande prazer da minha existência é ousar o novo?

Uns tem medo que a morte bata a sua porta
Eu estou indo bater à dela
Eu me manterei um passo a frente
Afinal se não o fizer, ela fará

Se tudo que falei aqui
Soou estranho ou obvio
Sei que foi porque te contaram
Afinal você ousou seguir os próprios passos alguma vez?

Ousou descobrir a própria verdade
E não mais seguir um pastor?

Incógnito

E se lhe dissesse que
“Não sou ninguém
Sim, sou alguém
Não sou nada
Sou tudo que você pode ver”?

Será que sou realmente
O que você escuta ou vê?
Afinal... Os sentidos enganam
O que você sente ou sabe?
E se for tudo uma Farsa?

Você seria capaz de duvidar de tudo que sabe sobre mim?
Sim ou não? Realmente sim? Realmente não?
Se achares que me conhece...
Saiba que um dos piores cegos
É aquele que acha ver a verdade...

Se achares que me conhece
Defina-me...
Antagonista, Orgulhosos, Gelado, Sábio?
Não... tudo demasiado vago
Palavras, apenas e tão só palavras

Ousará duvidar de mim?
Ousará colocar tudo que você sabe a prova?
Afinal para “saber” mais sobre essa incógnita
Terá que até mesmo colocar-se a prova
Porque sou o que sou ou o que você enxerga?

Dúvidas e mais dúvidas
Perguntas e mais perguntas
Mentiras escondendo verdades
Verdades escondendo mentiras
E nada para confiar, nada para segurar...

Assim que tudo se for
E você ter ido tão fundo no meu jogo
Finalmente assim enlouquecendo
Saiba que... Eu estarei lá
Estendendo minha mão para levantar-te

E quando estivermos apenas nós
Questionar-te-ei
“Será que realmente sou tão duvidoso?
Será que você não sabia a verdade o tempo todo?”
Confundindo-lhe logo após a certeza

Caindo e levantando
Enlouquecendo e voltando
Assim numa inexorável dança
Ao menos você pode perceber que estamos dançando?
Ao menos... Entendeu o que disse?

Não?... Então apenas dance

Cassino

A roda está girando
A cartas estão sendo colocadas na mesa
Bela aposta
Bela mão

Esta jogada foi boa
Mas a próxima também será?
Você não sabe
E é por isso que está nessa

A emoção de avançar no desconhecido
Colocando tudo em jogo
Colocando sua existência nas mãos da sorte
Isso faz tudo ser pra valer

E é por ser assim sério
Que você esta nessa
Pra você nunca foi brincadeira, afinal isso é a vida
Aposta teu olho, mas se não for para aposta-lo não brinca

As pessoas perguntam
Por que você vai por ai?
Por que age assim?
Por que segue esse rumo?

Porque você sabe que nasceu para morrer
Nasceu para viver uma guerra
Nasceu sabendo que o amanhã é uma farsa, uma ilusão
Que de uma hora pra outra ele pode nunca mais existir

Para você é tudo ou nada
Viver ou morrer
Desprezar ou amar
É para valer à pena ou não acontecer

Você está preso na roda da fortuna
E esta gargalhando
Sabendo que a qualquer momento pode ser acertado por uma faca
Mas tem que ser assim, sério, se não você não entraria nessa.

Afinal
Isso é o amor para você.

Brasil

Terra de muitas belezas
Muitas riquezas
Muitos e grandes amores
Quem daqui sai não esquece jamais
Afinal... Uma terra abençoada por Deus

Mas além das bençãos naturais
O que temos?
O que construímos comparado aos outros?
Grandes obras? Temos
Grandes conquistas? Temos

Mas quanto à sociedade?
Um país
Em que um jovem
Se nega a ceder seu acento no ônibus
A uma velha senhora já encurvada

Um país
Em que o patriotismo
Dura apenas poucas semanas
Coincidentemente, ou não,
As semanas na copa

Um país
Onde comerciantes
Em meio a tragédias
Extorquem pobres miseráveis
Que perderam o pouco que tinham

Um país
Em que alguns menos favorecidos
Atingem uma posição de destaque, pois tiveram determinação
Mas quantos morrem tentando, mesmo tendo determinação?
É, ninguém escuta as histórias que “não dão certo”

Um país onde se vê um assalto
E não se faz nada para impedi-lo
Um país guiado pela mesquinharia
Onde cada um só pensa no seu
Um país onde todos são vítimas, mas ao mesmo tempo culpados

Aqui
Ladrões roubam casas que desabaram com algum deslizamento
Para poder sustentar seus vícios
Olham os mortos, mas não fazem nada
Porque só querem saber de si... e de seus vícios

Com o coração injuriado
Alguns levantam as mãos aos céus
E perguntam a Deus “Por que?”
Mas ele não os escutará...
Afinal Deus não tem nada a ver com isso

Mas por que afinal tamanha malignidade?
Porque desses desventurados viciados
Foi tirado qualquer expectativa de futuro
Deles foi roubado todas as chances de dignidade
E eles então seguem o exemplo

E quem o roubou tudo?
Governantes corruptos, sem escrúpulos ou compaixão
Governantes eleitos por Nós
Eleitores que só pensam em o que ganharão dele
Pobres mercenários

Afinal, fomos nós
Que roubamos aquela casa desabada
E deixamos morrer aquela família
Afinal como já disseram
“Cada povo tem o governo que merece”

Plante vento e colha tempestade
Assim num ciclo vicioso e destrutivo
Impossível de ser parado
Uma vez que os poucos que podiam
Permanecem estáticos

É, talvez eu seja um hipócrita
Afinal o que faço?
O possível
Nos mínimos atos me preocupando com o todo
E não apenas comigo

O impossível?
Espero conseguir seguidores para fazer
Acomodado, inerte
Sendo que o verdadeiro guerreiro
Se faz ser seguido para fazer o impossível

É, talvez eu seja um idealista
Afinal o que almejo?
Um sonho
Mas se não lutar pelos meus sonhos
Pelo que lutaria?

Universo


Uma palavra.
Muitas coisas.
Muitas outras palavras.
E quantas idéias?

Em poemas dizemos
Que algumas palavras levam a um novo universo
Amor, Angústia, Morte, Saudades, Felicidade
Mas e se, assim como é, todas as palavras tivessem esse poder?

Consegue enxergar
A teia das palavras?
A teia das idéias?
A teia do universo?

E se eu lhe dissesse
Que tudo é uma ilusão
, Tudo,
O que restaria?

A quantas mil coisas uma única coisa
Pode te levar?
Você consegue enxergar os milhões
De caminhos?

Louco seria quem enxerga estes caminhos?
Certo...
Mas louco ele era, por poder enxergá-los
Ou louco tornou-se, por tê-los enxergado?

Quanto é “infinito” dividido por “infinito”?
A resposta seria “infinito”...
E como o universo é infinito, e tudo é parte dele
Cada uma dessas coisas é infinita também.

E se eu lhe dissesse
Que tudo é uma ilusão
Tudo
O que restaria?

Você poderia duvidar de tudo?
Você poderia acreditar em tudo?
E se tudo levasse a lugar nenhum?
E se tudo pudesse levar a qualquer lugar?

Você pode enxergar
O universo a sua volta?
E o universo que está dentro de você?
Ou ainda, o universo dentro das outras coisas ou outras pessoas?

“O universo é grande”
È... antes fosse, mas ele é infinito,
Se ele fosse apenas grande as coisas seriam mais simples
E com certeza, menos divertidas

Poderia escrever o dobro de linhas
Ou apenas uma
Na dúvida
Fico na média

O “porque” dessa discrepância
È que não importa o quanto ou o que eu fale
Mas sim, quem lê
Afinal, essa pessoa pode ser louca ou ter potencial para tanto.

E se eu lhe dissesse
Que tudo é uma ilusão
O que restaria?
Uma ciência? Uma filosofia? Amor? Alguém? Você?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Cheio do Vazio

Em meus gestos
Em meus dias
Em meus propósitos
Em meus sonhos
Tudo tão vazio

Meus gestos não se alteram
Mas a cada momento
Parecem tornar-se mais difíceis
Uma dificuldade que não sinto
Mas que me dissuade de fazer qualquer coisa

Sei que meus dias não se alteram
Mas a cada um deles
Estes parecem ganhar um novo pesar
Um pesar que não sinto
Mas que me extenua

Sei que meus propósitos não se alteraram
Mas quando os miro
Não os vejo como antes
Os enxergo claramente
Mas não mais os admiro

Pelo menos meus sonhos mudaram...
Os poucos que ficaram
Tornaram-se preto e branco
Sem qualquer boa emoção
Agora apenas possuem uma aura deprimente

Em meus gestos
Correntes que não posso sentir, mas também não posso quebrar
Em meus dias
Pedras que não sinto, mas que caem sobre minhas costas levando-me ao chão
Tudo em uma lenta e melancólica melodia

Em meus propósitos
Uma neblina que não posso ver, mas que me impede de admirar qualquer coisa
Em meus sonhos
Completa insensibilidade e daltonismo
Tudo em uma lenta e melancólica melodia

Na realidade
Não há muito que dizer
Só o que há é um desespero profundo
De alguém que não suporta mais essa realidade
E quer livrar-se dela e tenta fazê-lo por meio de poemas