terça-feira, 17 de junho de 2008

Lobos

A lua cheia começa a aparecer no horizonte
Com ela surgem novas esperanças

Por muito tempo o reneguei
Por muito tempo o aprisionei
Lentamente ele foi adormecendo
Pouco a pouco
Mas sei que ele ainda está aqui dentro

Acorde
A lua te chama
Os uivos têm que te despertar
Ele tem que acordar...
Ele não pode ter morrido

Sem ele não passo de uma casca vazia
Ele tem que se levantar e uivar mais uma vez
Fazer-me sentir o mundo
Sem ele não posso sentir dor, não posso odiar
Sem ele não posso me apaixonar, sem ele não posso amar

A cálida luz da lua inunda a clareira
A vida e a morte começam a dançar

Minhas mãos começam a se tornar patas
Minhas unhas transformam-se em garras
Meu rosto dá lugar a um focinho
Meus suplícios se tornam uivos
Meus olhos amarelos brilham mais fortes que o sol

Sinto-o despertar
Meus uivos percorrem a profundidade da noite
Os olhos dele resplandecem com mais furor que a vida
Meus olhos mostram os sentimentos ainda existentes
Sem ele meus olhos só teriam um melancólico vazio...

Eu sou a face por trás da máscara
Sou o sentimento
A emoção ocultada pela razão
Sou aquele que dança oculto nas trevas
Sou o furor de sua/nossa vida

Além da compreensão está ele
Dançando e lutando consigo mesmo

Em meus olhos
Veja as labaredas que queimam no inferno
O ódio
Veja os gritos aprisionados
O desespero

Veja a maré que se levanta e afoga a todos
A angustia
Veja o desejo por sangue
A dor
Em meus olhos

Em nossos olhos
Veja o fascínio pelo oculto
A paixão
Veja os doces olhos de um lobo
O amor

Racionalidade cedendo lugar aos sentimentos
O gelo sendo destruído pelas chamas

Ele é a razão. Eu sou a emoção
Eu sou a paixão e a degradação
Eu sou a alucinação e a motivação
Eu sou a criação e a destruição
Eu sou a emoção. Ele é a razão

Os lobos dançam a minha volta
Eles conseguem ver nas trevas, com seus olhos de âmbar
Tudo aquilo que está escondido
Eles enxergam a verdade mesmo sem a luz do luar
Olhe no abismo dos meus olhos e verá também

Sou a janela oculta pelas pesadas e negras cortinas
Cortinas que agora você arrancou
Será que você é capaz de encarar toda essa luz?
Será que você é capaz de se proteger de todo esse vento?
Você realmente sabe com que forças está lidando?

Besta e homem, sonho e pesadelo, real e ilusão
Confundem-se nessa macabra dança

Falava um sábio agora engolido pelas areias do tempo
“A sabedoria não é o sentimento ou a razão
Mas sim o equilíbrio harmônico entre eles”
Talvez seja o ponto em que não vá te machucar
Mas tanto eu quanto ele... Somos monstros

Tanto o calor quanto o frio
Podem queimar sua frágil pele
Tanto ele quanto eu
Podemos te machucar, e até matar
Ou dar afeto e proteger

Eu dou os meios
Eu dou a motivação
Eu sou o que aparece. Eu sou quem está nas trevas
Sem ele eu não teria por que existir. Sem ele eu me autodestruiria
Você pode encarar toda essa luz? Será que por você, poderia encontrar a harmonia?

Um comentário:

Mya Lobo; disse...

NOSSA MUITO BACANA SUA POESIA É INCRÍVELMENTE INTRIGANTE,MARCA A PASSAGEM DE UM SER QUE SOMOS A OUTRO QUE ANSIAMOS SER,MAS QUE POR IRONIA NÃO PODEMOS!!!ADOREI!!